segunda-feira, 9 de agosto de 2010

SOBRE GRAVIDEZ


Nos tradicionais nove meses que separam a concepção do nascimento do bebê, as mudanças no corpo, as alterações hormonais e a expectativa emocional fazem a mulher incorporar cada vez mais seu lado mãe. Ela fica cada vez mais disponível para o neném, física e emocionalmente.

Tanta entrega, no entanto, não significa que a grávida deva esquecer seu lado mulher.

E elas não esquecem, segundo uma pesquisa conduzida na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). O estudo "Perfil do Comportamento Sexual na Gestação", desenvolvido no Mestrado em Ciências do Movimento Humano e publicado em 2008, revela que, no primeiro trimestre de gravidez, 40% das gestantes mantiveram sua frequência de relações sexuais.

No levantamento, outras 40% notaram diminuição e 10% perceberam alta no número de vezes que fizeram sexo. Ou seja, comparando o período anterior à gravidez e o primeiro trimestre de gestação, metade das gestantes ou manteve ou teve aumento na frequência de relações.

Já no segundo trimestre de gestação, 48% disseram manter sua frequência sexual, enquanto 30% acusaram diminuição e cerca de 20% afirmaram ter havido aumento. No terceiro trimestre, 20% afirmaram que mantiveram a frequência de antes da gestação, enquanto mais de 60% alegaram ter diminuído.

O estudo reforça a ideia de que as mulheres tendem a manter ou aumentar a frequência sexual no primeiro trimestre, elevar um pouco no segundo e diminuir o número de relações no terceiro.

A analista de sistemas Sandra Justo*, de 33 anos, é uma das que estão na média. Grávida do segundo filho, ela conta que, durante suas duas gestações, nada mudou no desejo sexual do casal. "Nunca misturei as bolas em ser mãe e mulher. O sexo continuou acontecendo sem culpa. Nada muda nas questões de prazer", define.

Mudanças e Preocupações

Mas ela admite que há algumas mudanças e preocupações. "Há restrição de posições e na disposição, que diminui por causa da sonolência no início da gravidez. E há preocupações, como falta de lubrificação. Qualquer dorzinha já é motivo para parar e levar a questão para a próxima consulta com o obstetra. Ou seja, ficamos cheios de cuidados em torno do ato em si", conta.

Segundo a Dra. Cristina Guazzelli, professora do Departamento de Obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é exatamente isso que deve ser feito. Ela informa que, a rigor, não há nada que impeça a relação sexual durante a gravidez.

Tudo pode continuar normalmente, só devendo a frequência ser interrompida em caso de alguma intercorrência. "Se tiver sangramento ou risco de prematuridade, por exemplo, a vida sexual tem de ser interrompida", completa.

Para reconhecer essas intercorrências e saber se há risco de prematuridade, basta ficar atenta: se há contrações precoces, sangramentos ou se o médico detectar alguma dilatação antes do tempo, deve-se parar de ter relações.

Mitos

No entanto, noções como machucar o bebê e interferir no útero durante o ato sexual são mitos. "Não interfere em nada com o bebê, que está protegido na cavidade do útero, cujo colo está fechado. Portanto, não há contato do pênis com o feto e nem pressão sobre ele", avisa a ginecologista. O recado é dado principalmente aos homens, que muitas vezes têm esses medos infundados ou, como explica a Dra. Cristina, sentem-se intimidados e temerosos em manter as relações.

"Eles nos olham mais como mães. Mais até do que nós nos sentimos como mães nessas horas", avalia a analista de sistemas Sandra Justo. "Na segunda gravidez, senti mais isso. Acho que é porque o papel de mãe do primeiro filho já esta muito forte na vida do casal", pondera.

Mesmo não representando perigo para o bebê nem para o casal em momento algum, é recomendável que o sexo na gravidez seja diminuído no final da gestação, segundo a Dra. Cristina. Isso já ocorre na prática, como revela a pesquisa da Udesc e reforça a especialista: "A própria mulher tem diminuição de libido, em função de hormônios e de alterações psicológicas, já que ela acaba se voltando mais à gravidez. O aumento do abdômen também gera desconforto e é difícil ter posição adequada. Elas mesmas já não têm tanta disponibilidade", relata a médica.